Menonitas
Os menonitas (ou mennonitas) são um grupo de denominações cristãs que descende diretamente do movimento anabatista que surgiu na Europa no século XVI, na mesma época da Reforma Protestante. Tem o seu nome derivado do teólogo frísio Menno Simons (1496-1561), que através dos seus escritos articulou e formalizou os ensinos dos anabatistas suíços. Segundo estimativas de 2015, há mais de 2,1 milhões de menonitas espalhados pelo mundo todo.[1]
Índice
1 História
1.1 Menonitas no Brasil
2 Teologia
3 A Igreja Evangélica Irmãos Menonitas
4 Referências
5 Bibliografia
6 Ligações externas
História |
Em 1523, Ulrich Zwingli, um ex-padre católico, começou a reformar a igreja na cidade suíça de Zurique. Um grupo de seus discípulos, liderados por Conrad Grebel, Félix Manz e Georg Blaurock logo rejeitou Zwingli que usava a Câmara Municipal para fazer a reforma. O grupo começou a estudar a Bíblia, e não encontrou qualquer justificação para a "igreja do estado", mas acreditavam que os cristãos eram uma comunidade de crentes que livremente escolheram seguir a Cristo, e seu testemunho público de sua fé seria através do batismo adulto. Isto significava declarar inválido o batismo das crianças. Em 21 de janeiro de 1525, em Zollikon, um subúrbio de Zurique, o grupo decidiu batizar um ao outro. Batismo de adultos como uma parte essencial da sua fé, quase que imediatamente começou a chamar os "anabatistas" (rebatizadores), mas o grupo preferiu o nome de irmãos suíços.[2][3]
O movimento se espalhou rapidamente por toda a Europa, especialmente nos territórios do Império Alemão. A situação piorou para os anabatistas, quando em 1526, ordenou-se que cada subdivisão política do império deveria adotar a religião do governante. Se o líder fosse um católico, assim deviam ser seus súditos. Se o governante era luterano, seus súditos tinham que praticar a religião luterana, que conflitava diretamente com a concepção dos irmãos, que acreditavam em uma comunidade de crentes que escolhem livremente a sua fé sem a interferência da autoridade civil em matéria de fé. Em 1529, embora os principais defensores da Reforma divulgassem no seu famoso protesto (daí o nome "protestante") rejeitar qualquer coisa "contrária a Deus ou a Sua Santa Palavra", concordaram com os católicos em perseguir os anabatistas.
Assim, foi promulgada a lei imperial de 23 de abril de 1529 ordenando "tirar a vida de todo rebatizado ou rebatizador, homem ou mulher, maior ou menor, e executar de acordo com a natureza do caso e da pessoa, por fogo, por espada ou por outros meios sempre que um homem seja encontrado".[4] A repressão piorou após a rebelião dos anabatistas em Münster e extremistas, sob o pretexto de esmagar a revolta encenada por eles e suas idéias subversivas, multiplicado execuções Irmãos, embora eles sempre foram pacifistas e rejeitassem as ideias e práticas münsteristas.[5]
O testemunho pessoal e a perseguição religiosa levaram os anabatistas e a nova doutrina
a diferentes países da Europa, surgindo inúmeras igrejas inicialmente na Suíça, Prússia (atual Alemanha), Áustria e Países Baixos.[6][5]
O principal ponto de discórdia entre os menonitas e seus perseguidores era o batismo infantil. Os menonitas acreditam que a igreja deve ser formada a partir de membros batizados voluntariamente. Isso não era tolerado pela maioria dos Estados, nem pela igreja católica nem pela igreja protestante oficial da época.[2][4]
Os menonitas tiveram durante a sua história diversos pontos de discórdia entre si o que sempre acabou levando a divisões e novas denominações entre eles, como por exemplo os Amish.[6]
Durante o século XVI, os menonitas e outros anabatistas foram duramente perseguidos, torturados e martirizados.[2] Por isso muitos deles emigraram para os Estados Unidos, onde ainda hoje vive a maior parte dos menonitas. Eles estão entre os primeiros alemães a imigrarem para os Estados Unidos.
Outros se isolaram em colônias e povoamentos fechados dentro de Estados onde eram tolerados.
Em 1788, a convite de Catarina, a Grande, imperatriz da Rússia, agricultores menonitas da Prússia (atualmente Alemanha e Polónia) emigraram para Chortitza (em 1789) e Molotschna (em 1804) no sul da Rússia (atualmente Ucrânia). Com o passar do tempo, por escassez de terra e outros motivos, surgiram muitas outras colonizações menonitas que lutaram pelo seu bem-estar espiritual, cultural e material em diversas regiões da Rússia Europeia e asiática.[6]
Através de intensa migração e também de evangelismo os menonitas se espalharam por todos os continentes do globo, sendo que a maior comunidade menonita se encontra atualmente na África.[1] Há colônias menonitas significativas também no Paraguai e no México.[6]
Menonitas no Brasil |
Em 1929 os menonitas conseguiram vistos para o Brasil que aceitou recebê-los. Em 1930, imigrantes alemães menonitas se estabeleceram no município de Witmarsum, em Santa Catarina. Em 1931, um pequeno grupo se estabeleceu em Curitiba.[7] Em 1951 os menonitas de Santa Catarina mudaram-se para o município de Palmeira, no Paraná, e fundaram a Colônia Witmarsum. Um grupo também se estabeleceu no município de Rio Verde.
Teologia |
A teologia menonita enfatiza a primazia dos ensinamentos de Jesus como escritos no Novo Testamento. Eles acreditam no ideal de uma comunidade religiosa baseada nos modelos do Novo Testamento no espírito do Sermão da Montanha. As crenças básicas derivadas das tradições anabatistas são:
- Salvação pela fé em Jesus Cristo.
- A autoridade das Escrituras e do Espírito Santo.
- Batismo dos crentes entendido como: Batismo pelo espírito (mudança interna do coração), batismo pela água (demonstração pública de testemunho) e batismo pelo sangue (martírio e acetismo ou a prática de autonegação como medida de disciplina pessoal e especialmente espiritual).
- Discipulado entendido como um sinal exterior de uma mudança interior.
- Disciplina na igreja, como descrito no Novo Testamento, particularmente de Jesus (por exemplo no Discurso sobre a Igreja). Algumas igrejas menonitas praticam o banimento.
- A Ceia do Senhor entendida como um memorial ao invés de um sacramento ou ritual, de preferência comungado por crentes batizados dentro da unidade e disciplina da igreja.
- Os discípulos de Jesus Cristo não participam em guerras nem usam armas para atacar, ferir ou matar a seus inimigos.[5]
Uma das primeiras expressões de fé menonita foi a Confissão de Schleitheim, adotada em 24 de fevereiro de 1527. Seus sete artigos consistiam em:
- O banimento (Excomunhão)
- Quebra do pão (Comunhão)
- Separação e abandono da abominação (a Igreja Católica Romana e outros grupos e práticas "mundanas")
- O batismo do crente
- Pastores nas igrejas
- Renúncia da espada (pacifismo cristão)
- Renúncia do juramento (a palavra como prova da verdade)
A Confissão de Fé de Dordrecht foi adotada em 21 de abril de 1632 por menonitas holandeses, por menonitas alsacienses em 1660 e por menonitas norte-americanos em 1725. Não existe um credo oficial ou um catecismo cuja aceitação é requerida por congregações ou membros. Há porém estruturas e tradições ensinadas como Confissão de Fé de uma Perspectiva Menonita.[8]
A Igreja Evangélica Irmãos Menonitas |
Em meados do século XIX, o pastor evangélico Eduardo Wuest veio da Alemanha trabalhar entre seus conterrâneos que moravam no sul da Rússia, próximo à colônia menonita de Molotschna. Simultaneamente, este pastor passou a dirigir estudos bíblicos nas igrejas menonitas.
Tanto o evangelho pregado pelo pastor Eduardo Wuest como a literatura religiosa ao pietismo de Württemberg, na Alemanha, movimento de avivamento com ênfase na regeneração e santificação, encontraram boa aceitação junto a muitos que, insatisfeitos com o estado das igrejas, almejavam uma vida renovada. O resultado foi um reavivamento espiritual na região, que resultou na Igreja Irmãos Menonitas, fundada em 6 de janeiro de 1860.
Chamavam-se de irmãos porque os crentes ao Novo Testamento assim eram chamados (Filipenses 4:1; I Pedro 2:17).
Através da imigração, a Igreja Irmãos Menonitas expandiu-se para as Américas do Norte e do Sul. Em cumprimento à grande comissão do Senhor Jesus: «ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura» (Marcos 16:15) (Grande Comissão), muitos missionários da América do Norte foram a outros países, especialmente da África e da Ásia, proclamar o evangelho da salvação.
Assim, quando em 1930 um grupo de menonitas de origem alemã veio da Rússia ao Brasil, o trabalho de pregação do evangelho foi iniciado com auxílio dos irmãos da América do Norte.
Referências
↑ ab Mennonite & Brethren in Christ World Membership - Mennonite World Conference
↑ abc Estep, William R. (1963) Revolucionarios del siglo XVI. Historia de los Anabautistas. Casa Bautista de Publicaciones. 1975.
↑ Williams, George H. (1983) La reforma radical: 145-232. México: Fondo de Cultura Económica. ISBN 968-16-1332-5
↑ ab Van Braght, Thieleman 1660: Martyrs Mirror. Herald Press. Scottdale PA; Waterloo, Ontario. ISBN 0-8361-1390-X
↑ abc Bender, Harold S. y John Horsh. 1979: Menno Simons, su vida y sus escritos. Traducido al castellano por Carmen Palomeque. Herald Press. Scottdale, Pensylvania; Kitchener, Ontario. ISBN 0-8361-1218-0
↑ abcd Suárez Vilela, Ernesto. 1967: Breve Historia de los Menonitas. Methopress, Buenos Aires.
↑ «Menonitas: há mais de 80 anos no Brasil». Igreja Evangélica Menonita Água Verde. Consultado em 26 de junho de 2014
↑ «Confession of Faith in a Mennonite Perspective, 1995». 29 de maio de 2007. Consultado em 29 de julho de 2017
- Esse artigo é baseado em sua maior parte nas traduções dos artigos da Wikipédia em alemão, espanhol e inglês.
Bibliografia |
- Martínez, Juan F. (1997) História e Teologia da Reforma Anabatista. Campinas: Cristã Unida.
- Siemens, Udo (org.) (2010) Quem somos? 1930-2010 : A Saga Menonita. Curitiba: Editora Esperança. ISBN 978-85-7839-053-2
Ligações externas |
- Convenção Brasileira das Igrejas Evangélicas Irmãos Menonitas – COBIM
- Associação das Igrejas Menonitas do Brasil
- Menno Simons- sua vida e escritos