Teatro o Bando
Teatro o Bando | |
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Sede em Vale de Barris, Palmela | |
Fundação | |
Algés, 15 de Outubro de 1974 | |
Tipologia | |
Cooperativa, Singularismo, Companhia Itinerante, Espectáculos em espaços não-convencionais. Dramaturgia a partir de textos em Língua Portuguesa | |
Espectáculos Emblemáticos | |
Bichos (1984), Afonso Henriques (desde 1983), Pino do Verão (desde 2001), Os Anjos (2003), Ensaio Sobre a Cegueira (2004), Ainda não É o Fim (2012). | |
Sede | |
Vale de Barris, Palmela GPS | |
Equipa | |
Direcção (desde Agosto 2017) | João Brites, Raul Atalaia, Miguel Jesus, Guilherme Noronha e Juliana Pinho |
Financiamento e apoios: Governo de Portugal, Ministério da Cultura, DGARTES, Câmara Municipal de Palmela. |
Teatro O Bando é uma companhia de teatro profissional portuguesa em actividade desde 1974. "Um colectivo que elege a transfiguração estética enquanto modo de participação cívica e comunitária"[1].
É pessoa colectiva de Utilidade Pública[2] e Entidade Formadora Certificada.
Índice
1 Fundação
2 O Singularismo como corrente estética
3 Dramaturgia
4 Cronologia de criações
5 Espaços cénicos e máquinas de cena
6 Sede
6.1 Sede actual (2013)
7 Estrutura e funcionamento da Cooperativa (2013)
7.1 Assembleia Geral e Direcção
7.2 Direcção artística
8 Outros aspectos
9 Ligações externas
10 Referências
Fundação |
A Cooperativa de Produção Artística Teatro e Animação o Bando foi fundada a 15 de Outubro de 1974 em Algés pelos artistas João Brites, Jaqueline Tison, Cândido Ferreira, Carmen Marques, Jorge Barbosa (actor) e Maria Janeiro.[3]
No seu começo a companhia foi pensada e estruturada em torno do teatro para a infância conceito que visava combater a crescente tendência infantilizante da criança gerada pelos espectáculos da vertente do teatro infantil. Colocando a criança como parte activa sociedade, como pensadora política e artística capaz de utilizar a realidade concreta e o sonho sem ser obrigada a encaixar-se num formato redutor e comercial dos que pré-concebem a criança e a desarmam com histórias de fadas e mundos construídos por adultos acabando por perverter assim o potencial do imaginário infantil. [4]
O Singularismo como corrente estética |
Hoje o Teatro o Bando mantém uma metodologia colectivista da criação, apoiada numa experiência acumulada, designada por '‘singularismo’' com o pressuposto da obtenção de obras mais inesperadas e singulares, precisamente porque não foram resultado de um único indivíduo iluminado. As obras são reconhecíveis porque a liderança artística se revê na dimensão transpessoal dos seus resultados, e não por se consubstanciar em variantes de um mesmo estilo de representação que se repete.[5]
O Teatro o Bando reactualiza assim os conhecimentos adquiridos na procura de uma inquietante impertinência dos espectáculos inclassificáveis.
A noção de '‘singularismo’', agora mais reflectida, discutida e esclarecida, constitui-se como a âncora estruturante da organização interna do grupo - cujas responsabilidades são cada vez mais partilhadas, particularmente pelos mais novos - e de todas as iniciativas nas diferentes áreas de intervenção.
O protagonismo da criação teatral, também se alimenta de um conjunto de micro e de macro actividades culturais, nomeadamente no âmbito da formação e captação e sensibilização de públicos, que interagindo entre elas e com participantes muito diversos, contribui para um cada vez maior impacto na comunidade, no meio artístico e na formação de actores[5].
Dramaturgia |
O Teatro o Bando adapta textos não-dramáticos para teatro assim muitas vezes romances, poemas, textos de tradição oral sobem ao palco e compõem a base do trabalho dramatúrgico desta companhia sendo o Teatro o Bando o grupo de teatro português que mais espectáculos encena a partir de obras de autores de língua portuguesa,[3] entre muitos destacam-se:
Gente Feliz com Lágrimas, a partir da homónima de João de Melo
Bichos, a partir da obra homónima de Miguel Torga
Gente Singular, a partir da obra homónima de Manuel Teixeira Gomes
Pino do Verão, a partir de poemas de Eugénio de Andrade
Ensaio sobre a Cegueira, a partir da obra homónima de José Saramago
Cronologia de criações |
Ano | Nome | Texto |
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1974 | A Boneca | Criação Colectiva |
1974 | O Pastor | Criação Colectiva |
1975 | O Ovo | Criação Colectiva |
1976 | Sem Vintém | Criação Colectiva |
1976 | A Máquina | Criação Colectiva |
1976 | Barba Doce | Criação Colectiva |
1976 | João Triste Fica Contente | Criação Colectiva |
1977 | Cristóvão, O Homem do Saco e A Vaca de Vilar de Vacas | Criação Colectiva |
1978 | O Vigarista e o Dentista | Criação Colectiva |
1978 | Omsikzaf | Criação Colectiva |
1978 | Estátua Estatuada | Criação Colectiva |
1979 | Feijões São Sempre Feijões | Criação Colectiva |
1979 | Auto dos Altos e Baixos | Criação Colectiva |
1980 | À Cerca Disto | Cândido Ferreira |
1980 | História da Estrela Escondida por Detrás da Montanha | José Carretas |
1980 | Pensamento Prisioneiro | Raul Atalaia |
1980 | Cenas da Vida de El-Rei Ramiro | João Brites |
1981 | Caras ou Coroas | Cândido Ferreira |
1982 | Aton | Horácio Manuel |
1982 | Afonso Henriques | tradição oral, historiador António José Saraiva |
1984 | Trágicos e Marítimos | Criação Colectiva |
1984 | Tanta Praia Para Fitas | Criação Colectiva |
1985 | S. Cristóvão | Cândido Ferreira |
1985 | Os Cágados | Almada Negreiros |
1986 | Nós de um Segredo | adaptação de João Brites |
1986 | Em Duelo | Criação Colectiva |
1987 | Viagem | Sophia de Mello Breyner Andresen |
1987 | Montedemo | Hélia Correia |
1988 | Noivos Velhos, Novos Noivos | Eduarda Dionísio |
1988 | Nora | Gonçalo Fernandes Trancoso |
1988 | Carcaças..., Pedro I Príncipe Bezerro | João Brites |
1989 | Estilhaços | Mário de Carvalho |
1989 | A Pregação | Padre António Vieira |
1990 | A Terceira Margem Do Rio | João Guimarães Rosa |
1990 | Bichos | Miguel Torga |
1991 | Viriato | Brás Garcia de Mascarenhas |
1991 | A Morte do Palhaço | Raul Brandão |
1992 | D. Sebastião Paris-Dakar | vários Autores |
1992 | Da Vida dos Pássaros | João Silva |
1992 | Borda D `Água | António Ramos Rosa |
1992 | Amanhã | Almada Negreiros |
1993 | Gente Singular | Manuel Teixeira Gomes |
1993 | Se Mentes | Photocena – Teresa Rita Lopes |
1994 | Esta Noite...Improvisa-se | Luigi Pirandello e Dora Brites |
1994 | The Right Shoes | Criação Colectiva |
1994 | Trilhos | Criação Colectiva |
1994 | Liberdade | Sophia de Mello Breyner Andersen |
1995 | Mão Cheia de Nada | Irene Lisboa |
1996 | Balada de Garuma | Ad de Bond |
1996 | Nau de Quixibá | Alexandre Pinheiro Torres |
1997 | Visões | a partir de Jonh Milligton |
1997 | Odores e Rumores | Fernando Macedo |
1997 | Gloçon Son | Fernando Macedo |
1998 | Vassilissa | Bruno Stori |
1999 | Mirad, um Rapaz da Bósnia | Ad de Bont |
1999 | De um Lado Oculto | Criação Colectiva |
1999 | A Porca | Marie Darieussecq |
2000 | Merlim | Tankred Dorst |
2000 | Percival, Em Fuga | Tankred Dorst e Ursula Elher |
2000 | Miúra, Em Fuga | Miguel Torga |
2000 | Dulcinha, Em Fuga | Hélia Correia, Antónia Terrinha |
2001 | Ti Miséria, Em Fuga | tradição popular |
2001 | Abrigo | Ismail Kadaré e João Brites |
2001 | Mariana, Em Fuga | Maria Alcoforado |
2001 | Gabriel, Em Fuga | Vários Autores |
2001 | Joana, Em Fuga | Sophia de Mello Breyner Andersen |
2001 | Russo, Em Fuga | João Nuno Martins |
2001 | Menino, Em Fuga | Jorge de Sena |
2001 | Vertigem | Carlos Alberto Machado |
2001 | Pino do Verão (1ª edição) | Eugénio de Andrade |
2002 | Russo, Em Fuga (versão Alemã) | João Nuno Martins |
2002 | Alma Grande | Miguel Torga |
2002 | Gente Feliz com Lágrimas | João de Melo |
2003 | Os Anjos | Teolinda Gersão |
2004 | Horas do Diabo | Fernando Pessoa |
2004 | Ensaio sobre a Cegueira | José Saramago |
2005 | An European Odyssey | Homero e Odette Bereska |
2005 | Salário dos Poetas | Ricardo Guilherme Dicke e Amauri Tangará |
2006 | Grão de Bico | Conto de tradição popular |
2006 | Salário dos Poetas | (recriação Brasil)– Ricardo Guilherme Dicke e Amauri Tangará |
2006 | Luto Clandestino | Jacinto Lucas Pires |
Espaços cénicos e máquinas de cena |
Partindo de um transfiguração estética e através de uma arte elástica que em adição ás artes plásticas, aos materiais, arquitecturas e espaços sugeridos pela natureza cria espaços para teatro numa colina, numa praça, num monumento, num comboio, ou num telhado, o teatro o bando tem procurado o espaço não convencional para instalar o seu espaço cénico, chegando mesmo a utilizar as salas convencionais de teatro modificando-as avançando pela plateia adentro buscando um rompimento da frontalidade formal[5].
O Teatro o Bando cria espectáculos com recurso a dispositivos que, no conjunto, formam aquilo que se designa por máquinas de cena, e que não são nem cenários estáticos, nem adereços ou objectos de que os actores se servem, porque podem ser comparados a personagens, dado que criam ambientes, tensões, sentimentos, mesmo quando não estão em movimento. «é um teatro que desenha paisagem e paisagem não apenas no sentido da natureza», afirma o crítico de teatro Jorge Listopad[6][7].
O Teatro o Bando reconhece-se na possibilidade de as várias componentes de um espectáculo - que juntas formam esse todo - serem isoláveis e ter cada uma delas uma qualidade diferente podendo ser um potencial objecto de valor artístico por si só. São estas as personagens (que podem fazer espectáculos isoladamente e.g. Ti Miséria), o texto (normalmente adaptação dramatúrgica a partir de um texto não-dramático), a máquina de cena (objecto de que permite varias leituras dependendo da perspectiva e mesmo quando está isolado), a composição musical (com sentidos abstractizantes que permitem compor depois uma Banda Sonora) e o espaço cénico (com dimensão e ângulos imprevistos, realçados pelo desenho de luz, ou pelo ambiente concreto da serra da rua ou de um novo e inesperado lugar dentro de um Teatro)[8].
Como resultado de uma intensa actividade de itinerância as máquinas de cena ganharam relevo na história do Bando. Maria Helena Serôdio refere-se a estas como objectos polisssémicos que, apoiados nessa qualidade, ganham um sentido ou função conforme a posição ou lugar que ocupam na cena. Uma das máquinas de cena mais famosa é a do espectáculo Afonso Henriques (em cena desde 1983) que é apelidada de TRONO mas que conforme a posição em que está sugere ser um BERÇO, uma CARRETA, um CASTELO, uma SÉ ou simplesmente uma CAMA[3] .
A partir deste património o Teatro o Bando tem na sua sede, espalhadas pela encosta e integradas na paisagem várias dessas máquinas de cena numa exposição chamada AO RELENTO.
Sede |
A primeira sede do teatro o bando foi em Sintra. Depois esteve sediado em Meleças em 1976 passando por Marvila, Algés e FAPIR entre 1977 e 1980. Fixou-se em Benfica entre 1980 e 1983 e depois na sala das novas tendências do Teatro da Comuna de 1984 a 1991. A Abril de 1991 ocupou o espaço conhecido como estrela 60[3].
Sede actual (2013) |
Desde 2000 que o Teatro o Bando está sediado em Vale de Barris, Palmela. Situado em pleno Parque Natural da Arrábida na encosta da Serra do Louro numa Quinta que se estende da estrada ao cume preenchendo uma língua de 80 hectares o Teatro o Bando vive entre oliveiras e rebanhos ocupando dois pavilhões que eram antigas malhadas com espaço para escritório, camarins, oficinas, palcos interiores e exteriores e um caminho pedonal que ziguezagueia até ao topo da Serra e que é conhecido por muitos caminhantes. [5]
Estrutura e funcionamento da Cooperativa (2013) |
O Teatro o Bando está organizado como cooperativa cultural desde a sua fundação sendo a par da portuense Cooperativa Árvore das primeiras cooperativas culturais portuguesas. Embora em termos fiscais isso pouco o diferencie de uma empresa, a denominação cooperativa com todo o peso que tem (assembleia, custos e processos) é um formato reafirmado anualmente em assembleia geral de cooperadores que visa fazer frente a um sistema crescentemente antidemocrático e obscurantista que, embora possa ser combatido artisticamente, pode também sê-lo organizacionalmente com exemplos práticos, comunitários e sociais como o do Teatro o Bando. É pessoa colectiva de utilidade pública e entidade formadora certificada.[3]
Assembleia Geral e Direcção |
Como acontece em qualquer cooperativa a Assembleia Geral de Cooperadores é o mais alto órgão composto por 22 cooperadores (Adelaide João, Ana Brandão, Antónia Terrinha, António Braga, Bibi Gomes, Clara Bento, Fátima Santos, Gonçalo Amorim, Guilherme Noronha, Horácio Manuel, Isabel Atalaia, João Brites, João Neca, Juliana Pinho, Jorge Salgueiro, Lima Ramos, Miguel Jesus, Nicolas Brites, Paula Só, Raul Atalaia, Rui Francisco, Sara de Castro e Suzana Branco) que elegem a Direcção (João Brites, Raul Atalaia e Sara de Castro que dirigem o Teatro o Bando e a equipa fixa no seu dia-a-dia) e os restantes corpos da cooperativa. Uma das nomeações também feita em assembleia geral é a Direcção Artística[8].
Direcção artística |
A Direcção Artística é o núcleo criativo mais regular que discute, concebe e executa os projectos dirigindo-os do conceito/ideia/desenho para o Teatro e é composta pelos seguintes artistas: João Brites Encenação e Dramaturgia e Cenografia; Rui Francisco Espaço Cénico; Teresa Lima Oralidade, Jorge Salgueiro Direcção Musical; Miguel Jesus Dramaturgia e Conteúdos; Clara Bento Figurinos e Adereços[8].
Outros aspectos |
- A 25 de Junho de 2010 a Presidência do Conselho de Ministros declarou a Cooperativa de Produção Artística Teatro Animação O Bando, C.R.L. como Entidade de Utilidade pública publicado em Diário da República.[2]
Ligações externas |
- Site oficial do Teatro o Bando
- Página na rede social Facebook
Referências
↑ Nota Biográfica na ESTC
↑ ab DIÁRIO DA REPUBLICA , II Série, de 2010-07-08
↑ abcde vários autores "O BANDO - monografia de um grupo de teatro no seu vigésimo aniversário", em: grupo de teatro o bando. (1994), Corlito/Setúbal. ISBN 972-96482-0-4
↑ "Trilhos", Real. Rui Simões, Prod. Real Ficção/teatro o Bando, Lisboa, 1994 VIDEO
↑ abcd DO OUTRO LADO/ON THE OTHER SIDE direcção [de] João Brites, Rui Francisco , Miguel Jesus. PQP 2011, ed.. DGARTES. 2011
↑ MÁQUINAS DE CENA/SCENE MACHINES direcção João Brites, 2005, ed. Campo de letras Porto 2005 ISBN 972-610-953-1
↑ Artigo Gulbenkian
↑ abc Teatro O Bando : afectos e reflexos de um trajecto / direcção [de] João Brites. 1a ed.. Palmela : Grupo de Teatro O Bando,. 2009. ISBN 9789899532304.