Dilúvio





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Le déluge - Léon Comerre


O mito do dilúvio é uma narrativa em que uma grande inundação, geralmente enviada por uma (ou várias) divindade(s), destrói a civilização, muitas vezes em um ato de retribuição. Paralelos são frequentemente feitos entre as águas da inundação e as águas primitivas de certos mitos de criação, sendo que a água é descrita como uma medida de limpeza ou purificação da humanidade, em preparação para o renascimento. A maioria dos mitos de inundação também contém um herói cultural, que "representa o desejo humano pela vida".[1]


A temática mitológica do dilúvio é generalizada entre muitas culturas ao redor do mundo, conforme visto em histórias sobre inundações da Mesopotâmia; nos Puranas, os livros religiosos hindus; em Deucalião, da mitologia grega; na narrativa do dilúvio no Gênesis; em mitos dos povos quichés e maias na Mesoamérica; na tribo Lac Courte Oreilles Ojibwa de nativos americanos da América do Norte e entre os chibchas e cañaris, na América do Sul.




Índice






  • 1 Mitologia


  • 2 Hipótese histórica


  • 3 Ver também


  • 4 Referências


    • 4.1 Bibliografia







Mitologia |





O Dilúvio, por John Martin, 1834





Matsya, avatar do deus Vishnu, puxa o barco de Manu, depois de ter derrotado o demônio


As histórias de inundação da Mesopotâmia dizem respeito aos épicos de Ziusudra, Gilgamexe e Atrahasis. A Lista Real Sumeriana, por exemplo, baseia-se numa inundação para dividir sua história em períodos pré-diluvianos e pós-diluvianos. Os reis pré-diluvianos tinham enorme expectativa de vida, enquanto que a dos pós-diluvianos foi muito reduzida. O mito do dilúvio sumério é encontrado no épico de Ziusudra, que ouviu o conselho divino para destruir a humanidade, no qual ele construiu uma embarcação que navegasse pelas grandes águas.[2] Na versão de Atrahasis, o dilúvio é uma inundação pluvial.[3]


No século XIX, o assiriologista George Smith traduziu o relato babilônico do Grande Dilúvio. Outras descobertas produziram várias versões do mito do dilúvio mesopotâmico, encontrado em uma cópia de 700 a.C. do Épico de Gilgamexe. Neste trabalho, o herói, Gilgamexe, encontra o homem imortal Utnapistim, que descreve como o deus Ea o instruiu a construir um enorme navio antes de uma grande inundação divina que iria destruir o mundo. A embarcação iria salvar Utnapistim, sua família, seus amigos e seus animais.[4]


Na mitologia hindu, textos como o Satapatha Brahmana mencionam a história purânica de um grande dilúvio,[5] em que o Matsya, o avatar do deus Vishnu, adverte o primeiro homem, Manu, sobre um dilúvio iminente e também aconselha-o a construir um barco gigante.[6][7][8]


Na narrativa sobre um dilúvio encontrada no Gênesis da Bíblia Hebraica, Deus decide inundar a terra por causa da profundidade do estado pecaminoso da humanidade. O justo (aquele que segue as diretrizes divinas) Noé recebe instruções para construir uma arca. Quando a arca é concluída, Noé, sua família e representantes de todos os animais da Terra são chamados para embarcar. Quando o dilúvio destrutivo começa, toda a vida do lado de fora da arca perece. Após as águas baixarem, todos aqueles a bordo desembarcam e têm a promessa de Deus de que Ele nunca vai julgar a terra com um dilúvio novamente. Ele dá o arco-íris como sinal desta promessa.[9]


Em Timeu, de Platão, Timeu diz que por causa da corrida pelo bronze os seres humanos vinham fazendo guerras constantemente, o que deixou Zeus irritado e fez com que decidisse punir a humanidade com uma inundação. Prometeu, o titã, sabia disso e contou o segredo para Deucalião, aconselhando-o a construir uma arca, para ficar a salvo. Depois de nove noites e dias, a água começou a recuar e a arca desembarcou no Monte Parnaso.[10]



Hipótese histórica |




Tábua de Gilgamexe


Entre as hipóteses sobre uma inundação real está o aumento do nível do mar depois do fim da era do gelo. Outra hipótese é que um meteoro ou cometa caiu no oceano Índico em torno de 3000-2 800 a.C., o que gerou um tsunami gigante que inundou terras costeiras.[11]


Escavações no Iraque, local da antiga Mesopotâmia, revelaram evidências de inundações localizadas em Shuruppak (atual Tell Fara) e várias outras cidades sumérias. Uma camada de sedimentos fluviais, datada de cerca de 2 900 a.C. através de radiocarbono, interrompe a continuidade do assentamento, que se estende para o norte até a cidade de Kish, que assumiu a hegemonia após o dilúvio. Cerâmicas policromadas do período Jemdet Nasr (3000-2 900 a.C.) foram descobertas imediatamente abaixo do estrato da inundação em Shuruppak. Outros locais, como Ur, Kish, Uruk, Lagash e Nínive, também apresentam evidências de inundações. No entanto, estas evidências vêm de diferentes épocas e períodos.[12] Geologicamente, a inundação de Shuruppak coincide com o surgimento do deserto do Saara e parece ter sido um evento localizado causado pelo represamento do rio Karun através da disseminação de dunas, por inundações no Tigre e por chuvas fortes em simultâneo na região de Nínive, o que levou toda a água para o rio Eufrates. Em Israel, por exemplo, não existe evidência de uma inundação generalizada.[13] Dadas as semelhanças na história do dilúvio da Mesopotâmia e do relato bíblico, parece que ambas têm uma origem comum.[14]


A geografia da região mesopotâmica foi consideravelmente alterada com a expansão do golfo Pérsico depois do aumento do nível do mar após a última era do gelo. Os níveis globais do mar eram cerca de 120 metros mais baixos em torno de 18 000 anos atrás e subiram até 8 000 anos atrás, quando atingiram o patamar atual, uma média de 40 m acima do nível do golfo, que era uma enorme (800 x 200 km) região de baixa altitude e de terreno fértil da Mesopotâmia, onde acredita-se que a habitação humana pode ter sido forte em torno do oásis formado pelo golfo há 100 mil anos. Um aumento repentino nos assentamentos acima do nível atual da água é registrado há cerca de 7 500 anos.[15][16]


A historiadora estadunidense Adrienne Mayor promoveu a hipótese de que os mitos de inundação globais foram inspirados em observações de homens da Antiguidade de conchas e fósseis de peixes em zonas do interior e de montanha. Os antigos gregos, egípcios e romanos documentaram a descoberta de tais restos nesses locais; os gregos acreditavam que a Terra tinha sido coberta por água em várias ocasiões, citando as conchas e os fósseis de peixes encontrados nos cumes das montanhas como evidências disto.[17]


Sobre o mito de Deucalião, especula-se que um grande tsunami no mar Mediterrâneo, causado pela erupção do Tera (com uma data geológica de aproximadamente 1630-1 600 a.C., é a base histórica do mito. Embora o tsunami tenha atingido o sul do mar Egeu e Creta, não afetou cidades na Grécia continental, como Micenas, Atenas e Tebas, que continuaram a prosperar, indicando que o evento foi local, com efeitos de âmbito regional.[18]


Também foi proposto que o mito do dilúvio que existe na América do Norte possa ser baseado no súbito aumento do nível do mar causado pelo rápido escoamento do lago Agassiz no final da última era gelo, há cerca de 8.400 anos.[19]


Uma das hipóteses mais recentes e bastante controversas de inundações a longo prazo é a hipótese do dilúvio do Mar Negro, que defende um diluvamento catastrófico cerca de 5600 a.C do Mar Mediterrâneo para o Mar Negro. Pode ter tido importantes repercussões na proto-história do antigo Oriente Próximo e do Mediterrâneo Oriental, podendo até ter dado origem aos mitos mesopotâmicos e bíblicos do dilúvio universal. Vale lembrar que a cerca de 5600 a.C, o conhecimento de “mundo” era extremamente limitado e, por isso, os povos que podem ter sido atingidos por esta catástrofe ambiental podem ter acreditado que as terras atingidas fossem a totalidade do planeta Terra. Esta hipótese tem sido objeto de considerável discussão.[20][21]


A hipótese literal de um dilúvio mundial, como descrito em Gênesis, é incompatível com a compreensão moderna da história natural, especialmente a geologia e a paleontologia.[22][23] Para comparar: alguns dos maiores tsunamis da história, resultantes do impacto de Chicxulub, há 66 milhões de anos, atingiram somente as Américas inteiras (ou quase todo o Hemisfério Ocidental).



Ver também |



  • Dilúvio do Mar Negro

  • Arca de Noé

  • Atlântida



Referências




  1. Leeming, David (2004). «Flood | The Oxford Companion to World Mythology». Oxfordreference.com. Consultado em 17 de setembro de 2010 


  2. Bandstra 2009, p. 61, 62.


  3. Atrahasis, lines 7–9, by Lambert and Millard


  4. Pritchard, James B. (ed.), Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1955, 1969). 1950 1st edition at Google Books. p.44: "...a flood [will sweep] over the cult-centers; to destroy the seed of mankind; is the decision, the word of the assembly [of the gods]."


  5. The great flood – Hindu style (Satapatha Brahmana).


  6. Matsya Britannica.com


  7. Klostermaier, Klaus K. (2007). A Survey of Hinduism. [S.l.]: SUNY Press. p. 97. ISBN 0-7914-7082-2 


  8. Sehgal, Sunil (1999). Encyclopaedia of Hinduism: T-Z, Volume 5. [S.l.]: Sarup & Sons. p. 401. ISBN 81-7625-064-3 


  9. Cotter, David W. (2003). Genesis. Collegeville (Minn.): Liturgical press. p. 49. ISBN 0814650406 


  10. Timeu, de Platão. Texto em grego: http://www.24grammata.com/wp-content/uploads/2011/01/Platon-Timaios.pdf


  11. Carney, Scott (7 de novembro de 2007). «Did a comet cause the great flood?». Discover Magazine. Consultado em 17 de setembro de 2010 


  12. Bandstra 2009, p. 61: (Parrot, 1955)


  13. Bandstra 2009, p. 62.


  14. Hendel, Ronald S.(1987), "Of Demigods and the Deluge: towards an interpretation of Genesis 6:1-4" (Journal of Biblical Literature, Vol 186 No 1)


  15. Lost Civilization Under Persian Gulf?, Science Daily, 8 de dezembro de 2010 


  16. Rose, Jeffrey I. (Dezembro de 2010), «New Light on Human Prehistory in the Arabo-Persian Gulf Oasis» (PDF), Current Anthropology, Vol. 51, No. 6: 849–883, consultado em 22 de fevereiro de 2012 


  17. Mayor, Adrienne (2011). The First Fossil Hunters: Paleontology in Greek and Roman Times: with a new introduction by the author. Princeton: Universidade de Princeton Press. ISBN 0691058636 


  18. Castleden, Rodney (2001) "Atlantis Destroyed" (Routledge).


  19. Early days among the Cheyanne & Arapahoe Indians by John H. Seger, page 135 ISBN 0-8061-1533-5


  20. "'Noah's Flood' Not Rooted in Reality, After All?" National Geographic News, February 6, 2009.


  21. Sarah Hoyle (18 de novembro de 2007). «Noah's flood kick-started European farming». University of Exeter. Consultado em 17 de setembro de 2010 


  22. Montgomery, David R. (2012). The Rocks Don't Lie: A Geologist Investigates Noah's Flood. [S.l.]: Norton 


  23. Weber, Christopher Gregory (1980). «The Fatal Flaws of Flood Geology». Creation Evolution Journal. 1 (1): 24–37 



Bibliografia |





  • Bandstra, Barry L. (2009). Reading the Old Testament : an introduction to the Hebrew Bible 4th ed. Belmont, CA: Wadsworth/ Cengage Learning. pp. 59–62. ISBN 0495391050 

  • Bailey, Lloyd R. Noah, the Person and the Story, University of South Carolina Press, 1989. ISBN 0-87249-637-6

  • Best, Robert M. Noah's Ark and the Ziusudra Epic, Sumerian Origins of the Flood Myth, 1999, ISBN 0-9667840-1-4.

  • Dundes, Alan (ed.) The Flood Myth, University of California Press, Berkeley, 1988. ISBN 0-520-05973-5 / 0520059735

  • Faulkes, Anthony (trans.) Edda (Snorri Sturluson). Everyman's Library, 1987. ISBN 0-460-87616-3.

  • Greenway, John (ed.), The Primitive Reader, Folkways, 1965.

  • Grey, G. Polynesian Mythology. Whitcombe and Tombs, Christchurch, 1956.

  • Lambert, W. G. and Millard, A. R., Atrahasis: The Babylonian Story of the Flood, Eisenbrauns, 1999. ISBN 1-57506-039-6.

  • Masse, W. B. "The Archaeology and Anthropology of Quaternary Period Cosmic Impact", in Bobrowsky, P., and Rickman, H. (eds.) Comet/Asteroid Impacts and Human Society: An Interdisciplinary Approach Berlin, Springer Press, 2007. p. 25–70.

  • Reed, A. W. Treasury of Maori Folklore A.H. & A.W. Reed, Wellington, 1963.

  • Reedy, Anaru (trans.), Nga Korero a Pita Kapiti: The Teachings of Pita Kapiti. Canterbury University Press, Christchurch, 1997.




  • Portal da mitologia



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