Italianos
















Italianos






































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Leonardo da Vinci


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Galileu Galilei


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Enzo Ferrari


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João XXIII


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Cristóvão Colombo


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Sophia Loren


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Giuseppe Garibaldi


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Francisco de Assis


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Carla Bruni


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Padre Pio


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Roberto Benigni


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Donatella Versace


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Giuseppe Verdi


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Dante Alighieri


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Benito Mussolini


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Silvio Berlusconi


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Laura Pausini


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Luciano Pavarotti


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Marco Polo


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Américo Vespúcio


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Bud Spencer


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Lourenço de Médici


Gian Lorenzo Bernini, self-portrait, c1623.jpg

Gian Lorenzo Bernini


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Andrea Pirlo

População total

140 Milhões no Mundo
(Italianos: c 60 milhões; Descendentes de Italianos : c 80 milhões)


Regiões com população significativa
























































































 Itália
55,818,099[1]


 Brasil
22,573,000[2]


 Argentina
15,880,000[2]


 Estados Unidos
15,502,248[2]


 França
1,903,890–5,000,000[2]


 Venezuela
1,736,766[3]


 Canadá
1,445,335[2]


Uruguai
1,055,220[2]


 Austrália
852,418[2]


 Alemanha
695,160[2]


Suíça
521,146[2]


 Bélgica
376,091[2]


 Reino Unido
255,403[2]


 Chile
184,997[2]


África do Sul
38,694[2]


Flag of Spain.svgEspanha
77,400[2]

Outros países 20,000

Línguas

Predominantemente italiano.
Religiões

Predominantemente católicos.

Os italianos são uma etnia da Europa Ocidental, primariamente associados à língua italiana. São um grupo étnico que vive predominantemente na Itália e, através da emigração italiana, em países como Brasil, Argentina, Estados Unidos, Chile, Alemanha, França, Uruguai, Canadá e Austrália.


A história genética dos italianos atuais foi muito influenciada pela geografia e pela história. Os ancestrais da maioria dos italianos são identificados como povos itálicos (dos quais os mais notáveis são os latinos e romanos, mas também os úmbrios, sabinos e outros) e é geralmente aceito que as invasões que se seguiram durante os séculos após a queda do Império Romano não alteraram significativamente a composição genética dos italianos, por causa do número relativamente pequeno de povos germânicos ou de outros migrantes, em comparação com a grande população que constituía a Itália romana.[4]






Índice






  • 1 Origens


    • 1.1 Do Paleolítico ao Neolítico


    • 1.2 Povos itálicos


    • 1.3 Etruscos, fenícios, gregos e romanos


    • 1.4 Godos, lombardos e bizantinos


    • 1.5 Francos, árabes e normandos


    • 1.6 Características físicas




  • 2 Italianos no Brasil


  • 3 Identidade italiana


    • 3.1 Norte e Sul




  • 4 Ver também


  • 5 Notas


  • 6 Referências





Origens |


O italiano é, do ponto de vista genético, um dos povos mais diversos da Europa. Diferentes populações se estabeleceram no atual território italiano ao longo dos séculos: agricultores do Oriente Próximo, povos itálicos, lígures, etruscos, fenícios, gregos, celtas, godos, lombardos, bizantinos, francos, normandos, suevos, árabes, berberes, albaneses, austríacos entre outros. Todos eles deixaram seu legado genético na atual população italiana.[5]


Há uma notável diferença genética entre os sardos, os italianos do norte e os italianos do sul. As pessoas do norte parecem estar próximas da população francesa, enquanto as do sul aproximam-se às dos Bálcãs e de outras populações do sul da Europa.[6][7][8][9] No entanto, a distância genética entre os italianos do norte e do sul, embora grande do ponto de vista da “nacionalidade”, é aproximadamente igual à dos alemães do norte e do sul da Alemanha.[10] O fosso genético entre os italianos do norte e do sul é preenchido por um aglomerado intermediário do centro da Itália, criando uma linha contínua de variação na península e nas ilhas (com os sardos como isolados), que espelha a geografia.[11]


A antropologia molecular não encontrou evidências de um fluxo genético do norte significativo na península italiana, nos últimos 1.500 anos. Portanto, a maior parte da etnogênese italiana ocorreu antes das invasões germânicas ou não europeias. Estudos de DNA mostram que apenas a colonização grega da Sicília e do sul da Itália teve um efeito duradouro na paisagem genética local.[12][13]



Do Paleolítico ao Neolítico |


A Europa vem sendo habitada por seres humanos há pelo menos 40.000 anos. Todas as populações humanas não africanas descendem de um único grupo que saiu da África há cerca de 100.000 anos e foi para a Ásia. Assim, africanos e asiáticos foram os responsáveis pelo povoamento do continente europeu, mesmo que essas migrações tenham ocorrido em momentos diferentes e talvez repetidamente.[14][15][16]


Durante a última era glacial, que durou aproximadamente entre 26.500 e 19.000 anos atrás, o norte e o centro da Europa estavam cobertos pelo gelo, tornando praticamente impossível a existência de vida humana. Assim, a Itália, com o seu clima mais ameno, tornou-se um dos refúgios para o homem de cro-magnon. Bem mais tarde, cerca de 8.000 anos atrás, agricultores neolíticos oriundos do Oriente Próximo chegaram à Itália. A agricultura surgiu no Levante há pelo menos 11.500 anos e lentamente se expandiu para a Anatólia e Grécia nos dois milênios subsequentes. Da Grécia, levou outro milênio para que agricultores neolíticos cruzassem o mar e atingissem as regiões italianas de Puglia, Calábria, Sicília e Sardenha e, de lá, penetrassem o interior e colonizassem o resto da península por outro milênio. Cerca de 7.000 anos atrás, toda a Itália já tinha adotado a agricultura.[5]


Com a chegada dos agricultores neolíticos, a maioria dos caçadores-coletores que anteriormente habitavam a Itália fugiram da península, com a exceção da Sardenha, onde houve a mistura dos grupos, provavelmente porque não havia como escapar da ilha.[5]



Povos itálicos |


Na Idade do Bronze, chegaram à Europa povos proto-indo-europeus. Estes migraram do Norte do Cáucaso e da Estepe pôntica para os Bálcãs (cerca de 6.000 anos atrás). De lá, subiram o rio Danúbio e invadiram a Europa central e ocidental (a partir de 4.500 anos atrás). Acredita-se que um povo do ramo indo-europeu, falante de língua itálica, cruzou os alpes e invadiu a Itália há cerca de 3.200 anos. Eles estabeleceram a cultura de Villanova e substituíram ou expulsaram muitos dos habitantes nativos da Itália, que tiveram que fugir e buscar refúgio nos apeninos e na Sardenha. Essas tribos itálicas conquistaram toda a península, mas se estabeleceram principalmente no norte e no centro-oeste italianos, sobretudo ao longo do rio Pó e na Toscana. Durante o fim da Idade do Bronze e o começo da Idade do Ferro, outras tribos indo-europeias se estabeleceram no norte da Itália, tais como os lígures na Ligúria, os lepôncios e os gauleses-celtas no Piemonte e os vênetos no Vêneto.[5]



Etruscos, fenícios, gregos e romanos |


Entre 1200 e 539 a.C., os fenícios construíram um vasto império comercial que se estendia do Oriente Médio, sua terra de origem, passando pelo sul do mar Mediterrâneo até atingir a Península Ibérica. Na Itália, eles tiveram colônias no oeste da Sicília e no sul e oeste da Sardenha.[5]


Outro povo que habitou a Itália foram os etruscos, que apareceram cerca de 750 a.C. A sua origem continua um mistério: alguns acreditam que eram originários da Anatólia (atual Turquia), mas ainda não há certeza quanto a isso. Os etruscos falavam uma língua que não era indo-europeia e que não tem nenhuma relação com nenhum outro idioma antigo à parte da língua rética falada nos alpes e da língua lemnia falada na região do mar Egeu. É provável que os etruscos vieram de algum lugar da região oriental do Mediterrâneo e impuseram seu idioma sobre as tribos itálicas que viviam na Toscana e ao longo do rio Pó.[5]




Mapa das línguas itálicas antes da expansão do latim.


No Sul da Itália, os gregos antigos também se estabeleceram. A partir do século VIII a.C, os gregos estabeleceram colônias por toda a costa de Campânia, Calábria, Basilicata, sul da Puglia e na Sicília (menos na ponta ocidental). Toda essa região ficou conhecida como Magna Grécia. Os gregos também colonizaram porções do norte italiano, especificamente a Ligúria, onde fundaram Gênova.[5] O impacto que os gregos tiveram na composição étnica do Sul da Itália é motivo de debate, com um estudo genético estimando que 37% da ancestralidade dos atuais sicilianos tem origem grega,[13] enquanto outro estudo estima que apenas poucos milhares de gregos e algumas centenas de gregas imigraram para a Itália e que os atuais italianos do Sul são geneticamente mais próximos dos gregos das ilhas do que dos do Continente.[17]


No século I, Roma se tornou a capital de um império vasto e cosmopolita. A imigração para Roma fez a cidade crescer de 400 000 habitantes no século III a.C. para um milhão entre 27 a.C. e 14 d.C. Como esses imigrantes vieram de todas as partes do império, é difícil estimar o impacto que tiveram na demografia de Roma e da península Itálica, mas foi considerável, pelo menos na região do Lácio.[5]



Godos, lombardos e bizantinos |


Nos séculos IV e V, tribos germânicas e eslavas migraram para o sul e oeste e invadiram o Império Romano em busca de terras férteis. Os vândalos foram os primeiros a chegar à Itália. Eles imigraram para a Península Ibérica, depois rumaram para o Norte da África em 429, onde fundaram um reino que também englobava Sicília, Sardenha e Córsega. Em 475, várias tribos germânicas orientais depuseram o último imperador romano e criaram o primeiro reino da Itália (476-493). O reino foi tomado pelos ostrogodos, que reinaram sobre toda a Itália, exceto a Sardenha, até 553. Eles foram sucedidos pelos lombardos (568-774), que tiveram que lutar pelo controle da Itália com os bizantinos. Os lombardos se estabeleceram mais densamente no nordeste italiano e na Lombardia, que recebeu este nome por causa deles.[5]




Afresco da cena de um banquete, Pompeia.


Os godos se originaram na Suécia. Porém, antes de chegar à Itália, eles desceram para a atual Polônia e atingiram o mar Negro, onde se misturaram com a população local. Depois, migraram para os Bálcãs no século III, onde permaneceram por 200 anos, havendo também mistura com os locais. Assim, quando invadiram a Itália, os godos não apenas trouxeram sua ascendência germânica, mas também eslava e balcânica. Igualmente, os vândalos, antes de atingirem a Itália, já haviam se estabelecido na Polônia, constituindo uma tribo heterogênea. Por outro lado, os lombardos, após saírem da Escandinávia, passaram pelas atuais Alemanha, Áustria e Eslovênia, algumas poucas décadas antes de invadirem a Itália. Portanto, estes trouxeram uma maior contribuição germânica para a Itália que os outros dois povos.[5]


De qualquer maneira, os invasores germânicos chegaram em número pequeno à Itália e se dispersaram geograficamente a fim de governar e administrar o reino. Em consequência, foram rapidamente diluídos dentro da população local. Algumas regiões da Itália nunca estiveram sob domínio lombardo, incluindo Sardenha, Sicília, Calábria, sul da Puglia, Nápoles e Lácio.[5]


No Sul da Itália, a chegada dos bizantinos só fez aumentar a contribuição étnica greco-anatólica que já predominava na região desde os tempos da Magna Grécia. No Norte da Itália, por outro lado, que nunca foi colonizado pelos gregos (exceto a Ligúria), os bizantinos introduziram novos elementos étnicos, particularmente na Emília-Romanha, nas Marcas e no litoral do Vêneto e da Ligúria.[5]



Francos, árabes e normandos |


Os francos conquistaram o Reino Lombardo em 774. Ao contrário de outros povos germânicos, a intenção dos francos não era encontrar uma nova pátria. Em consequência, eles não imigraram em massa para a Itália, limitando-se a trazer soldados e administradores, que não eram necessariamente de ascendência franca, mas também galo-romana. O seu impacto étnico na Itália foi, portanto, pouco expressivo.[5]


Logo após a chegada dos francos, os sarracenos, de origem árabe, invadiram a Sicília e o Sul da Itália, onde estabeleceram um emirado (831-1072). A maioria desses muçulmanos saiu da Itália após a conquista normanda no século XI. Os normandos, descendentes de viquingues da Dinamarca, invadiram a Sicília em 1061 e conquistaram toda a ilha em 1091.[5]



Características físicas |





Sardos em trajes típicos.


A maioria dos italianos, em todas as regiões do país, tem cabelos e olhos escuros. Segundo uma pesquisa, realizada no século XIX com milhares de italianos, a cor do cabelo da população italiana foi assim descrita:[18]



  • 60,14% tem cabelos castanhos

  • 31,06% tem cabelos pretos

  • 8,21% tem cabelos loiros

  • 0,57% tem cabelos ruivos


Existe, contudo, variação regional. A proporção de pessoas com cabelos escuros vai aumentando do Norte para o Sul. Assim, no Vêneto (norte), 12,56% da população tem cabelos loiros, 61,73% castanhos e 24,93% pretos. Por outro lado, na Ilha da Sardenha (sul), apenas 1,72% tem cabelos loiros e 43,39% castanhos e 54,64% pretos.


No tocante à cor do olhos, a distribuição na Itália foi a seguinte:



  • 60,30% tem olhos castanhos

  • 20,61% tem olhos cinza

  • 10,36% tem olhos azuis ou verdes

  • 8,74% tem olhos pretos.


Em relação à cor da pele, um estudo comparou quatro populações europeias, oriundas de Dublin (Irlanda), Varsóvia (Polônia), Roma (Itália) e Porto (Portugal). Nessa amostra, os irlandeses tinham o tom de pele mais claro, seguidos pelos poloneses. Portugueses do Porto apresentaram pele mais clara que italianos de Roma. No tocante à cor dos olhos, novamente irlandeses apresentaram proporção maior de olhos claros, seguidos pelos poloneses. Porém, italianos apresentaram maior incidência de olhos claros que portugueses.[19]



Italianos no Brasil |



Ver artigo principal: Imigração italiana no Brasil

A imigração italiana no Brasil teve como ápice o período entre 1880 e 1920. Segundo o embaixador da Itália no Brasil, cerca de 30 milhões de brasileiros são descendentes de imigrantes italianos.[20] Os ítalo-brasileiros estão espalhados principalmente pelos estados do Sul e do Sudeste do Brasil, quase metade no estado de São Paulo. Assim, os ítalo-brasileiros são considerados a maior população de oriundi (descendentes de italianos) fora da Itália.[21]





Imigrantes italianos na Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo, Brasil (1890)


Segundo outra pesquisa, a porcentagem de brasileiros que alegam ter ancestralidade italiana é de 10,5% da população do Brasil, segundo pesquisa de 1999 do sociólogo, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Simon Schwartzman, o que, numa população de cerca de 200 milhões de brasileiros, representaria em torno de 20 milhões de descendentes.[22]


Segundo o demógrafo Miguel Angel García, em pesquisa de 2003, entre 18 e 23 milhões de brasileiros descendem de italianos, a maioria dos quais, segundo o demógrafo, não mantêm mais vínculos com a Itália e com a sua cultura e, portanto, não podem ser considerados seriamente como "italianos" ou "ítalo-brasileiros".[23]


A maioria dos imigrantes italianos chegaram ao Brasil nas décadas seguintes à unificação italiana, de modo que a identidade italiana desses imigrantes ainda era bastante débil, uma vez que eles se sentiam ligados mais à sua região de origem do que à pátria; porém como os brasileiros desconheciam essas diferenças regionais e tratavam todos os cidadãos da Itália como meros "italianos", os imigrantes e descendentes foram transfigurando-se em italianos "genéricos", abandonando ou amenizando o regionalismo. Por fim, a identidade italiana foi sendo substituída pela brasileira, ficando cada vez mais débeis as ligações com a Itália e com a cultura italiana.[23][24][25]


A muitos descendentes de italianos a língua italiana ou o dialeto não foram transmitidos, porém os descendentes mantiveram ou reinventaram os costumes italianos no Brasil. Essas práticas culturais permaneceram no ambiente doméstico, em âmbito familiar, nas narrativas de família dos avós, que atualizavam o sentimento de pertencimento à Itália. Nas décadas de 1970 e de 1980, iniciou-se um movimento de rememoração da identidade italiana entre os descendentes no Brasil, que "retomam o discurso étnico, os relatos de imigração, o inventário das italianidades", o que dá origem a um processo de "redescoberta da italianidade".[26]


Nas últimas décadas, um número significativo de brasileiros de origem italiana imigraram para a Itália por diversos motivos, mas um elemento sempre presente na escolha pela Itália é o fato de descenderem de italianos e de desejarem ter o reconhecimento da cidadania italiana. De fato, muitos descendentes, antes de irem para a Itália, têm uma concepção imaginada do país, narrada pelos seus avós, que é diferente da Itália contemporânea. Portanto, observa-se nos relatos dos descendentes que imigram para a Itália que esse encontro com a terra dos antepassados não é isento de conflitos e tensões, a começar pela língua, pois em regra falam o dialeto, e não o italiano padrão. Além do mais, embora muitos descendentes tragam elementos de uma identidade italiana construída no Brasil, e não obstante muitos terem a cidadania italiana, eles não são reconhecidos como italianos pelos nativos, pois são vistos como brasileiros ou estrangeiros e, por isso, são objeto de "certo preconceito", mesmo sendo descendentes e brancos, problema o qual eles não imaginavam ter que enfrentar.[nota 1]



Identidade italiana |




Os dialetos italianos


A Itália só se unificou como Estado no final do século XIX. Até então, era uma região dividida em diversos reinos e estados separados, cujos habitantes falavam línguas e dialetos completamente diferentes entre si. Em 1861, não mais de 2% dos italianos sabiam falar a língua italiana. Apenas a elite letrada tinha acesso ao aprendizado do idioma. A porcentagem de falantes de italiano cresceu para 70% em 1970. A construção de uma identidade italiana foi, portanto, lenta e gradual.[27]


Os habitantes da Itália não se enxergavam primariamente como "italianos", mas antes de mais nada se sentiam conectados ao vilarejo e à região de nascimento. Eram "vênetos", "calabreses", "sicilianos" ou "lombardos", antes de serem "italianos". Mesmo com a grande emigração italiana para diversos países do mundo, alguns pesquisadores questionam se existe mesmo uma população de "descendentes de italianos", haja vista o grande sentimento de regionalidade, ao invés de nacionalidade, que esses imigrantes tinham. Muitos imigrantes italianos partiam de suas aldeias e se misturavam nos navios com italianos de outras regiões, que não necessariamente possuíam afinidades entre si. Isso é perceptível pelo fato de que certos grupos de italianos imigravam preferencialmente para algum país, enquanto outros grupos de italianos tendiam a migrar para outro. Por exemplo, os vênetos imigravam preferencialmente para o Brasil, os lígures preferiam a Argentina, os sicilianos e os napolitanos os Estados Unidos, enquanto os lombardos preferiam a Suíça. Devido a esse regionalismo, bairros étnicos de imigrantes surgiram em São Paulo ou em Nova Iorque, onde em alguns predominavam os vênetos, em outros os napolitanos ou sicilianos, que conviviam entre si, mas com vida associativa e social próprias. As diferenças culturais e linguísticas eram tais que, no final do século XIX, professores piemonteses foram enviados a escolas da Sicília e estes foram confundidos com ingleses.[27]


O governo fascista de Benito Mussolini agiu, inclusive com grande repressão, visando unificar a Itália dentro de uma única identidade, a "italianità". A alfabetização em massa da população italiana foi decisiva na criação de tal identidade, pois as crianças passaram a aprender o italiano dentro das escolas. De 80% de analfabetos em 1860, a porcentagem caiu para 74% em 1871 e para 38% em 1914. Os sentimentos regionalistas eram muitos fortes, e governos sucessores concederam maiores liberdades a regiões italianas onde esses sentimentos eram mais presentes para evitar movimentos separatistas. Por exemplo, Vale de Aosta, Friul-Veneza Júlia, Trentino-Alto Ádige, Sicília e Sardenha têm "status especial", com liberdade jurídica e financeira mais ampla que as outras regiões. As províncias de Trento e de Bolzano têm autonomia legislativa. Não é difícil de se compreender a razão de estas regiões terem maior liberdade. Em Vale de Aosta parte dos habitantes fala francês, enquanto que Friul-Veneza Júlia é culturalmente ligada à Europa Central. Por sua vez, a Sicília e a Sardenha são ilhas separadas da Itália continental, o que sempre lhes deu características peculiares. O caso do Tirol do Sul é o mais emblemático da política italiana de fazer concessões visando evitar a deflagração de movimentos separatistas. No Tirol do Sul, parte dos habitantes falam alemão, região esta invadida e anexada pela Itália em 1918. Após tentativas falhas dos habitantes do Tirol de se anexarem à Áustria, a Itália fez um acordo com aquele país e, tal como nas demais regiões autônomas, deu à região uma autonomia fiscal de forma que a maior parte dos impostos permanece na região.[27]


Além da educação e alfabetização em massa dos italianos, outros fatores contribuíram para nascer o sentimento de identidade nacional, como a enorme propaganda do governo, também conflitos internacionais envolvendo italianos que faziam surgir sentimentos nacionalistas entre a população, mas também novas tecnologias, como a televisão que, além de divulgar a língua italiana, divulgava uma cultura em comum, ou mesmo esportes, como o futebol, que é capaz de unir toda a população sob um mesmo espírito. Atualmente, o sentimento de identidade italiana já está bastante consolidado, e a maioria dos italianos se enxergam como um povo uno, como cidadãos de um mesmo país, embora ainda haja maiores afinidades entre italianos de uma mesma região do que com pessoas de outras, principalmente entre italianos do Norte e italianos do Sul.[27]



Norte e Sul |


Diferenças culturais e de formação étnica entre o Norte e o Sul do país são antigas, remontando a tempos medievais, quando o território que hoje corresponde a Itália ficou sob a influência de diversas ondas migratórias, formadas por povos germânicos, bizantinos, árabes, normandos e outros.


Com a emigração italiana em massa para as Américas e a Austrália, relatos de discriminação contra italianos foram comuns. Foram considerados "cidadãos de segunda classe" em diversas partes. Os italianos do Norte migraram principalmente para o Brasil, Argentina e Uruguai, e os italianos do Sul migraram em maior número para os Estados Unidos e Canadá. O anti-italianismo se acentuou com a entrada da Itália na Segunda Guerra Mundial, ao lado das Potências do Eixo. Na história recente da política italiana, surgiu o Partido de centro-direita Liga Norte que atua sobretudo no norte do país, reivindicando a secessão das regiões do norte e centro, que constituiriam a chamada Padânia. Em 2008, a Lega Nord teve 8,3% nas eleições gerais do país.[28] No Sul há vários movimentos autonomistas, mas como os do Norte, ainda relativamente inócuos.



Ver também |



  • Descendentes de italianos

  • Imigração italiana no Brasil

  • Emigração italiana


Notas




  1. "Alguns depoimentos narram as dificuldades de conseguir a documentação e o preconceito enfrentados, mesmo sendo descendentes e brancos, situação pelas quais não imaginavam passar"(página 13).[26]



Referências




  1. «15° Censimento generale della popolazione e delle abitazioni» (PDF) (em Italian). ISTAT. 27 de abril de 2012. Consultado em 22 de setembro de 2012  !CS1 manut: Língua não reconhecida (link)[ligação inativa]


  2. abcdefghijklmn «Italiani nel Mondo: diaspora italiana in cifre» (PDF) (em Italian). Migranti Torino. 30 de abril de 2004. Consultado em 22 de setembro de 2012  !CS1 manut: Língua não reconhecida (link)


  3. "...el diplomático calcula que 5% o 6% de la población venezolana actual tiene origen italiano." http://www.correodelorinoco.gob.ve/tema-dia/embajador-italia-caracas-asegura-que-sistema-electoral-venezolano-es-confiable/ "...el diplomático calcula que 5% o 6% de la población venezolana actual tiene origen italiano." Verifique valor |url= (ajuda)  Em falta ou vazio |título= (ajuda)


  4. «The History and Geography of Human Genes». google.com. p. 295 


  5. abcdefghijklmn http://www.eupedia.com/genetics/italian_dna.shtml


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  17. Ancient and recent admixture layers in Sicily and Southern Italy trace multiple migration routes along the Mediterranean


  18. http://farm4.static.flickr.com/3420/4562291520_678f532076_z.jpginserir fonte aqui


  19. http://www.plosone.org/article/info:doi/10.1371/journal.pone.0048294 Genome-Wide Association Studies of Quantitatively Measured Skin, Hair, and Eye Pigmentation in Four European Populations


  20. http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2013/10/agora-queremos-falar-de-outras-coisas-diz-embaixador-da-italia-no-brasil-4300510.html "Agora queremos falar de outras coisas", diz embaixador da Itália no Brasil


  21. «Cópia arquivada». Consultado em 7 de setembro de 2007. Arquivado do original em 3 de fevereiro de 2009 


  22. Simon Schwartzman (1999). [«Fora de foco: diversidade e identidades étnicas no Brasil» Verifique valor |url= (ajuda). Consultado em 7 de janeiro de 2016 


  23. ab Immigrazione Italiana nell’America del Sud (Argentina, Uruguay e Brasile).


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  25. Espaços de ressignificação da identidade italiana na Província de Minas Gerais


  26. ab Maria Catarina C. Zanini, Gláucia de Oliveira Assis, Luis Fernando Beneduzi (2013). «ÍTALO-BRASILEIROS NA ITÁLIA NO SÉCULO XXI: "RETORNO" À TERRA DOS ANTEPASSADOS, IMPASSES E EXPECTATIVAS» (PDF). REMHU - Rev. Interdiscipl. Mobil. Hum. Consultado em 7 de janeiro de 2016  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)


  27. abcd BERTONHA, João Fábio. Os Italianos. Editoria Contexto, 2005.


  28. «Liga Norte consegue 8% dos votos e Itália dos Valores obtém 4%». UOL. 15 de abril de 2008. Consultado em 12 de março de 2011 








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